terça-feira, 21 de outubro de 2008








Desalinhos e desmesuras (parte dois)

I just call to say I love me

Pela fresta vejo o tempo escorrido
corpo adentro.
Nem chuva, nem sol, muito menos alerta de fogo,
Pareciam tocar sua superfície silenciosa
e sonsa.
Ela se fingia de morta para melhor viver
Dizia minha avó da mulher da frente
Cada vez que o mundo pedia dela um grito, um riso, um gozo.
Ficava quieta e no canto da boca desenhava um gracejo de cumplicidade consigo mesma. Apenas ela alcançava. Eu que vivia para fora, vida vai, vida vem, ficava a imaginar para onde iam seus transbordamentos.
Passei a vida acordada e agora, percebo o quanto aquietei um tempo sem ao menos saber. Dormi para ver por dentro e fiquei aconchegada na passividade cúmplice. Uma incubadora de desejos, adiados e imprecisos.
Em que lugar me guardei enquanto dormia? Nem acordar eu sei. Remexo os sonhos e me vejo deitada na rede com o desconhecido. Um homem carregando a lenha passa e rouba meu olhar, um negro toca a ponta dos meus dedos e estremeço.
Subo e desço as ladeiras da serra. As papoulas sempre foram tão vermelhas? Montanhas de formas diversas enchem o vale de volúpia. Canindé tem um santo e eu aqui vendo malícia por todos os lados. Que cara tenho eu? Tomo a digital e registro imagens tantas de mim. No canto da boca o riso da vizinha. Nítida uma cara de mulher, desalinhada e vermelha, de vergonha é que não é.

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