sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Glória:
Estive no blog, li seus poemas e vi você, linha ao vento. Pensei depois de ir, ler e ver: se há mulher e a segunda natureza que ela instaura, há, sim (apesar dos ditames em contrário) uma literatura feminina, assim como há uma literatura macha. Ambas, em seus arquétipos de homem e mulher. Isso em nada (pelo contrário) as diminui. Ambas transcendem gêneros e não são feitas necessariamente por quem tem o sexo masculino ou feminino. Pensando assim, Manoel de Barros me parece tão menina e Hilda Hirst, tão fálica. Mas em você - pelo menos no que li até agora e foi tão pouco - genitália e escrita coincidem, como, por vezes, em Clarice e Lia Luft.Pòs-leitura , saio tocado pela feminilidade. Repito, aquela feminilidade arquetípica ou consensual ou trans-histórica: mulher, não apenas enquanto pessoa, mas um lugar.Escrevo isso pensando no vento que, segundo um dos poemas, lhe levanta a saia, lambe não se sabe onde e bate a porta. Escrevo isso pensando em quem, parafraseando Bandeira, diz ser "a mulher que quero e a cama escolherei". Escrevo isso pensando, pois, na mulher como um eldorado, um onde que pra onde vai leva consigo um para-além de si mesmo; um em-si. Poesia - diz Haroldo de Campos - é o afazer de afasia, ou seja, é um afazer de palavras quando não se tem palavras. E eu acrescentaria: poesia é o que nos põe em estado de poesia, em estado de afasia. Você, com alguns de seus textos, me pôs assim, tentando decifrar essa matriz feminina que aconchega um mundo à parte que lhe entra pela fresta da carne.
Um abraço!Ricardo Guilherme P.S Depois de reler este email, me perguntei: que sexo tem essa minha escrita ?Rsrsrsrs

Um comentário:

  1. Palavras-em-brasa cravaram o silêncio de um lugar-poesia povoado por pedaços de vida sem linguagem. Seus escritos entraram sem pedir licença no recanto da poesia e se esparramaram em almofadas que sempre estiveram ali no chão. Certamente, por co-habitar pedaços de terra inundados de sentimentos que não encontraram letras. Somos tão nômades e tão ninhos, tão vastos e tão cantinho! Gente como eu e você. Por isso, cada coisa tocada pelo olhar do outro, pela palavra do outro-que-nem-eu assume uma existência no quarto de tantos objetos invisíveis e (in)tensos. Sei não, seus escritos atiçaram a minha fome! muita fome! vontade de criar, pegar um trailler, viajar, contemplar, celebrar e criar. Palavras-contravenção dos desejos de uma geminiana-geminiana brincante e faminta de arte.
    inundados estamos nós de poesia

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