quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

auto-retrato



O verde fala de mim
A chuva fez esse acontecimento
Tenho a planta dos pés banhada da seiva dos andarilhos
Raízes me assanham os cabelos
Eu vento
Entremeada aos fios de dois
Tenho amor brotado na palma da mão
E um pássaro pousado na testa
Suas asas aninham
Eu me assento
Não tenho vergonha de dizer que sinto
Uma ausência de nascença
Coração semeando intensidades
Amores-seiva respingando pétalas
Flores sem alento
Embora teu amor segure minhas mãos
E a brisa toque delicada as palavras
O susto é disparado
Na vastidão da floresta
Fazendo sempre-verde o sentimento






15 comentários:

  1. Menina Glória, estive esses dias em uma fazenda no interior do RN, chuvia muito. Adorei. O cheiro de terra molhada. Magnifico milagre nesse sertão. Vc entende o q digo, né? conterrãnea. KKKK. Bjos com ternura.

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  2. tu é muito terra e teu abraço é bucólico.

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  3. Que belo auto-retrado Glória...lindo...
    adorei.

    como passou o carnaval ?
    bjos
    tudo de bom

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  4. lendo tua poesia lembrei das feiticeiras celtas irlandesas que tbm ventavam, choviam, possuiam a natureza em sua força de ser mulher. coisa muito fina. pactos secretos com forças infinitas de beleza.

    que vc, eu e todas continuemos a dançar a dança cósmica das feiticeiras que se sabiam conscientemente natureza.

    isso é força. impulsiona para vôos além do que se vê.

    um beijo glória!
    .aline.

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  5. Glória! Sempre fico sem palavras com teus escritos. E esse poema, então...
    Cheia de ternura, de sentimento, de VIDA!

    Que bonito!

    E, olha, verde é minha cor preferida.

    Um beijo, querida!

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  6. Quando a gente consegue ver além, como você vê, enxerga tanta coisa bonita!
    Lindo ver as palavras se desdobrando, se entrelaçando, criando sentidos.
    Bj!!!!!!

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  7. gloria querida, tuas palavras sempre tao gentis e acolhedoras.
    vim aqui te deixar um beijo e agradecer.

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  8. "Não tenho vergonha de dizer que sinto
    Uma ausência de nascença"
    Glória,
    parece que somos todos um pouco assim. Falta algo. Sempre.
    Você brinca com as palavras e escreve de forma elegante sem ser prolixa.
    Escolhe as palavras e transforma-as em poesias. Histórias de vida.
    Mistura os sentimentos e a natureza. As origens.
    Poema gostoso de ser lido.
    Bom para refletir.
    Obrigada sempre pelas suas palavras. Belíssimas !
    Beijão

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  9. Cara Glória. Por coincidência dessa rede de palavras que nos institui, também hoje, sexta-feira, postei um poema no meu blog. Não chega aos pés do seu, o qual tem mais sangue e suor do que qualquer linha que o meu modesto poema, homenagem ao Mário de Sá Carneiro, possa ter - do qual, aliás, gostaria da sua sincera opinião, já que foi coisa de felicidade de instante como essas fotos 3X4 ridículas que tiramos nos porres da vida. Mas quanto às suas linhas, nem sei como interpretá-las mas sei como sentí-las, o que já me diz que a poesia é você e não simplesmente está em você - e portanto me silencia, o que diz muito mais do que qualquer coisa, pois tudo provém do silêncio assim como tudo provém do nada, contrariamente ao que a cultura moderna apregoa. Você tem certeza que não está em algum livro da minha estante? Se não está, talvez eu encontre você nas estantes da vida, mesmo que elas sejam feitas por tantas ruas e casas desse país e desse mundo. Gosto da sua umidade de mulher. Gosto das suas pétalas que devoram. Gosto da voracidade do seu carinho. Gosto daquilo que em em você consome a palavra e por isso destila a vida. No mais, quanto aos nomes e aos nomeares do meu texto de ontem, creio que os mesmos são necessários, ainda que a fina camada de gelo, como disse o Roger Waters, possa romper a qualquer momento por sobre nossos pés de esquiador dos trópicos e sub-trópicos, fazendo com que a dor do não-nome esteja por todo canto e nos mate de hipotermia. Mas viver é isso, ainda que meu RG não diga nada a meu respeito. Um beijo molhado de chimarrão.

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  10. Lindo poema, como sempre, tão tocante e tão intenso. Também lembrei das mulheres celtas, como li num comentário anterior.
    Glória!!
    É sempre muito bom te receber no meu cantinho e sempre muito bom te ler também!
    Beijo e bom fim de semana!!!

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  11. Tu és em si um poema, além da poética forma de seus versos, ou os versos de tu mulher, onde em cada linha se debruçam os verdes do teu sentimento. Belo.

    Abraço, seu amigo e fã.

    R.Vinicius

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  12. Tanta coisa se sobrepõe neste que chamastes teu próprio retrato por te mesma tirado.
    As raízes te assanham, logo elas são vento, este vento-raíz consegue ser o que é mais profundo e o que é mais leve. É ar e é chão.
    E se pisas no chão com pés descausos, encontras solo já pisado por outros que não quiseram calçar-se, logo andastes tanto quanto todos eles juntos, pelo simples fato de preferir pé na areia fria. A simplicidade e a liberdade unem areia pisada aos pés de quem quer comungar passos e suas vidas.
    Esta mistura gostosa de desentender é bem própria de vc. E bem própria dos que lhe admiram.
    beijo Glória, a que não precisa de adjetivações só do nome

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  13. "Fazendo sempre-verde o sentimento."
    A idéia que carrego em mim.
    Abraço!

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Ventanias