terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Os olhos de Falcão - a primeira vista (parte dois)

Não sei escrever bonito. Não mesmo. Gosto de usar as mãos como se fosse um pensamento talhado em cimento e tijolo. Tenho uma ânsia de não ficar parado desde pequeno. Medo de serviço, tenho nada!. Tô pronto para quase tudo nesse mundo de meu Deus, só não gosto de roubar e muito menos de passar a perna em ninguém. Sou homem decidido, é pegar ou largar. Burro também acho que não sou, embora o estudo tenha sido pouco. Nunca deixei de ler de um tudo: revista de carro, de cachorro também dou o maior valor; livro de banca de jornal é uma boa; revista de quadrinho japonês, acho que escreve se mangá, eu gosto pra’ caralho. A última que li falava de um tal de Naraku. Era a história de um garoto que se envolve com demônios. Ao chegar ao inferno descobre que acabou perdendo a mulher dos seus sonhos e fica nas trevas. Mulher poderosa aquela! Nunca saiu da minha cabeça. Ela aparecia toda distante, um tipo de mulher que por mais que o caba se torça todo, enfrente meio mundo não consegue nem chegar perto. Essa mulher dos diabo ficou tinindo no meu juízo muito tempo, feito disco arranhado, que volta, volta pro’ o mesmo ponto.
E aqui eu começo uma história meio sem eira nem beira. Dessas que a gente nem sabe por onde começar. O nome dela é Raquel e eu fui trabalhar de pedreiro na reforma do apartamento dela. Lugar alto, vento bom e vista bonita. Eu só trabalho com meu walkman - é que eu adoro forró. A mão no pesado e o pensamento no molejo. A primeira vez que eu vi essa Dona Raquel foi quase uma assombração. Óculos escuros, as pernas toda desenhada; riso solto de mulher esperta que bota homem de quatro e olhar meio de serpente, daqueles que mesmo com o susto, você não consegue fugir. Ela entrou na horinha em que os Aviões do Forró tocavam no meu ouvido a música Amor proibido que diz desse jeito:

Eu quero ter você comigo. Seja como for. Poder estar sempre em teus braços. Sentir seu calor. E não importa o que falem desse nosso amor. Essa paixão é proibida. Tudo o que eu quero é você. Não importa o que falem. Bem querer!

Eu imaginei logo, isso não vai dar certo. Pois não é que o vento bateu na saia da mulher na minha vista, bem no rumo do meu olho. Num minuto estavam as pernas dela desde a calçinha, tudo ali na minha frente, roçando e fazendo pouco da minha vontade. Ela ainda se segurou em mim, a criatura e eu no nada. Cambaleei na falta de vergonha e tirei o olhar de cima dela. Não sabia onde botar a mão quanto mais o pensamento. Voltei e encarei mesmo. Meus olhos voaram na direção do corpo dela e não conseguiram, tão cedo, encontrar o caminho de volta. Vontade de pegar ali mesmo. O cheiro da mulher entrou de muito, bateu lá, bem lá, como um engasgo grande com um gole d’água pouco. Pensei alto. Essa mulher é outra. Incrível como uma criatura pode ser tão diferente das outras. Tanta mulher no mundo. É mulher de todo tipo que passa na mão da gente. E uma dessas ai nunca peguei.E cantarolei na minha mente: eu quero ter você comigo. E tive muitas vezes essa noite. Eu, minhas mãos e a vontade louca de que o vento carregasse aquela Raquel (bonito esse nome!) de mão beijada pra’ ali, pra’ dentro da minha cama. Cheguei ao inferno. Sou o senhor dos ventos. O resto da história eu conto depois. Para que essa pressa?

11 comentários:

  1. Outubro de 2008
    A mulher
    Você pode estar com uma mulher. Você pode ficar com uma mulher. Mas está com uma não significa dizer que você está com ela. Você tem que estar com aquela mulher. Você tem que sentir o seu cheiro e "animalescamente", inexplicavelmente gostar. Não sabemos por que gostamos de alguém. Mas uma mulher só é mulher quando você sente. A beleza é fundamental. Mas a beleza é determinada pelo sentir. Quanto mais sentir a mulher ao seu lado mais ela é bela. É o seu amor que determina o quanto ela é importante. Sua mente a ver como você assim a quer. A mais bela mulher. Você gosta até dos buraquinhos da bunda. Você gosta do cabelo. Você gosta da cor. Você gosta da pele. É uma embriaguez inexplicável. Eu penso que a mulher certa é “A MULHER AMADA”. O resto é ...

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  2. Caro Franzé, o amor tem dessas coisas e tantas outras inusitadas e belas. Gostar de alguém instintivamente,"animalescamente" é realizar o amor no seu sentido mais profundo. Manoel Bandeira dizia "o amor é um entendimento de corpos. Isso se faz ver, invisivelmente, intensamente. Obrigada pela calorosa visita e pelas palvras a flor da pele. bjs

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  3. tava com saudades daqui
    te ler é como um sopro de carinho no meu rosto
    beijo bem grandão!
    (e quero saber do resto dessa história!!!!!!!!)

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  4. Meu Deus!
    Nosso amigo está perdido...
    Quando as garras da paixão se prendem no coração de um homem...
    ele se torna um pobre ser sonhador.

    Aguardo o fim da história.

    Beijo.

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  5. Essa idéia da "novelinha" dá o maior frisson. Quando é que sai a continuação? Bom demais...

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  6. Oi Glória;
    tem um selo
    para você no blog:
    porentreletras

    Abraços Fraternos.
    Marcos Miorinni

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  7. Glória! Adorei a visitinha :). Adorei a história e, no aguardo pelo resto dela.

    Beijo grande!
    .aline.

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  8. Gostei da continuação. Gosto do nome Raquel. O vento sob a saia foi algo cinematografico, ficou na memória, tá gravado. Gostei da falta de pressa dele pra continuar a história; faz bem, fica misterioso e deixa suspense. Estou curioso pra continuar lendo.

    Abraço,

    R.Vinicius

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  9. (risos)
    Glória a história é magnífica, não li o começo ainda, é o primeiro post que leio seu, e estou adorando...Gostei da simplicidade do personagem, aparenta ser uma pessoa simples, sem muito estudo e com as maiores qualidades que um ser humano pode ter, a humildade e o amor ; e como o Vinicius disse, da falta de pressa...isso foi fantástico.

    O Vini já comentou do seu blog, ele fala bem de você e da sua escrita.
    Ganhou mais uma leitora fiel

    grande abraço

    ps: estou curiosa para ler a continuação.

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Ventanias