Um olhar pode alterar o rumo das coisas. Uma interdição mais ainda. Ela entrou no navio gaiola e procurou um local fora do alcance do sol. De pronto armou a rede. Havia tempo em que a vista não alcançava a brancura azulada do delta. A rede era larga, com listras de todas as cores e nas varandas estava escrito: Marluce. Um presente tem outra textura, outro cheiro, outro sentido quando o ato de urdir os fios se prolonga por entres os dedos. Por ter levado um tempo que não se conta o presente de sua avó já trouxe o nome de batismo: arco-íris. Dona Branca entregou a rede à neta e foi revelando a intenção do mimo: para que sua alegria nunca se acanhe. Marluce guardou o presente, intacto, por vinte anos. As pequenas escolhas revelam verdades que ocultamos das salas de visita. Ao se deitar, os dois nomes bordados nas varandas se destacaram em fios esverdeados. Um nome duplamente marcado ganha existência. Curiosa troça do destino. A decisão de ida a Tutóia seguia a vontade de interromper uma infindável repetição; a de ser uma única mulher em toda a vida. Sim. Muitas de suas conhecidas haviam criado faculdades de se desdobrar, de se safar de um nome voltado para fazer bem. Ser sonsa pode salvar uma mulher. A vizinha da esquerda, dia sim dia não garantia seu capítulo particular de novela. Bastava o marido montar a bicicleta de noitinha, paramentado de vigia, que Lindalva acendia. A olhos vistos. Logo depois do presente de avó, Marluce teve o seu primeiro filho, seguido de uma leva. Como se diz no interior – um filho atrás do outro. O tempo não permitia um momento qualquer de suspensão, de omissão. Passou feito raio. Dois dias antes da data do aniversário de quarenta anos a mulher olhou demoradamente o Parnaíba. Evocou as curvas, as margens entocadas de mistério e o encontro com o mar. E navegou. De imediato, foi tomada pelas palavras da avó e se deu conta de que “arco-íris” estava fora da vista, naufragou no fundo do baú. Abriu o lugar de lembranças foi encontrando fragmentos de cores: um bilhete soletrando desejo, um faixa do concurso de miss simpatia e a rede aguardando horizontes. Deslocou-se. E reparou no chocalhado do barco. Era dezembro. A rede próxima da proa descortinava um infinito, largo, vasto e sem moldura para a coisa vista. Sentou-se na beirinha, balançando as pernas e ouviu da moça da rede vizinha: teu nome é Marluce? Ela respondeu: não viu, é arco-íris!
Olá Glória,
ResponderExcluirIsso é arte, gosei.
como estamos no limiar ou no apagar das luzes de um ciclo que se encerra. Alguns propósitos realizaram-se outros aguardam que o novo ciclo que se inicia surja.
Então desejo-lhe ondas de realizações para o ano de 2010.
Forte abraço,
Hod.
Um pequeno gesto pode mudar tudo em sua vida
ResponderExcluirUm efeito grande para uma ação pequena
Estava suminda, né?
Bjos menina linda
Glória,
ResponderExcluirQue arrepio...
Você tem um dom raro... uma delicadeza com as palavras fortes... uma artesã...
Amei o presente para "que sua alegria nunca se acanhe"... assim como desejo que nunca se acanhem suas letras, e, que eu possa ter a sorte de encontrá-la sempre, e lê-la... enriquecendo assim a minha alma....
Que maravilha !!!!
Enfim, desejo-lhe um feliz, feliz, feliz Natal !!!
Afinal, Natal é amor.
Toda vez que amamos,
toda vez que nos damos, é Natal.
Beijo muito carinhoso
Seus textos não podem ser considerados como meros textos, como disseram no primeiro comentário, o que você faz aqui é pura arte, Glória!
ResponderExcluirentão... Já que é Natal...
"A Melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio
de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida"
Desejo a você e sua família
um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de Paz,Amor, Saúde e Amizade.
Beijo no coração!
Glória,
ResponderExcluirNão obstante a minha implicância com o uso comercial do "espírito natalino", não tenho como escapar da influência que a data exerce sobre o meu emocional que ainda teima em crer que a humanidade não é caso perdido e que podemos construir um mundo mais justo, sem violências e sem preconceitos. Em suma: sou um ingênuo assumido.
Sendo assim, é inevitável que venha para deixar os meus votos sinceros de que você tenha um feliz natal e que o ano novo não seja apenas uma nova página no calendário, mais um marco de mudança que inaugure uma nova era de paz e felicidades para todos e que possamos realizar todos os nossos melhores sonhos e projetos.
Felicidades.
Ao menino Jesus que possa haver dentro de você
ResponderExcluirdesejo-te
Paz, Amor
e sabedoria para encontrar o equilibrio
Feliz Natal
Bjs Gloria
Glória querida,
ResponderExcluirSaudades muitas, muitas!! Passar por aqui é matar um pouquinho delas!
Desejo-lhe para 2010 boas surpresas, sorrisos, invenções e o carinho daqueles que você ama.
Queria muito todos esses seus escritos num livro pra poder colocar na minha cabeceira!
Beijos e um abraço forte,
Luciana
Glorinha,
ResponderExcluirVejo que nesses ultimos escritos a idéia de viagem, de transformação, de travessia está muito presente. Me identifiquei logo. Você sabe o porquê. Atravessar não é uma tarefa facil, mas é necessária. Vivemos em alguns momentos de nossas vidas, tempos de deserto, onde nos encontramos sozinhos na vastidão do espaço. Para percorrer é preciso coragem. As vezes podemos pedir ajuda aqueles que vivem por lá, mas com é as próprias forças que percorremos sua imensidão.
Glória,
ResponderExcluircomo sempre elegante na maneira de contar uma história. Linda.
Concordo. "As pequenas escolhas revelam verdades"
Uma história de amor, com fios se prolongando entre os dedos e aquecendo nossos corações.
Uma história de esperança.
Que em 2010 você encontre mais um pote de arco-íris.
Saúde, amor e grandes realizações no ano que está chegando.
Renovação.
Feliz ano novo!
Glória, desejo um ano bom cheio de idéias, muita inspiração! Foi um prazer pra mim ter conhecido este seu espaço lindo! Beijos
ResponderExcluirBerenice
Coquetel da vida
ResponderExcluirPaz, Amor e Sabedoria
entr E las
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u
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l
í
b
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i
o
assim
desejo-te
2 palavras PaZciencia
0 pretérito
1 recomeço
0 novo tempo
Abraços e que neste, retornes pois és com carinho lembrada, felicidades Gloria.
"a rede próxima da proa [...] o arco-íris"
ResponderExcluiro meu desejo de um excelente anotodo procê, visse ;)
O arco-íris é o delta que a rede jamais prenderá. Os peixes são as nuvens em sonho que nenhuma rotina surda poderá emudecer. No meio disso a solidão de ser um e ser vários ao mesmo tempo. Espelho defronte espelho e adiante a água, esperando que Narciso afogue suas mágoas de prazer por dentre a íris daquilo que nunca fora. Há obscuridade clara, fluorescência sensata, sol que se esconde em um coração de pedra no seu texto. Mas ainda assim existe a margem do rio que desvela toda e qualquer possibilidade de navegação. E é aí que se encontra o segredo, bordado por mãos ágeis que se sabem vida unicamente porque criam, porque escrevem e postergam o eterno-retorno ao deus-dará das palavras na maré dessa rede que me traz um naco da sua carne e da sua paixão nas frases de um texto tão lindo. E sim, voltei à ativa, Glória. Um grande beijo, Eduardo. P.S.: dê uma olhada no último texto do INSUFILME.
ResponderExcluirpor isso olhares
ResponderExcluirrima com sonhares.
vc escreve suave,bom isso.
Que mansidão e doçura nesse texto assim aberto ao infinito, sem moldura ele também. Tanta saudade daqui!
ResponderExcluirBeijo
Carpe Diem!!
Andei mergulhada no teu blog e em vários outros textos li questões singulares acerca do olhar...Você escreve como poucos. Sim é arte em letras. Prazer em conhecê-la!
ResponderExcluirAbraços
Minha maravilhosa e saudosa escritora.
ResponderExcluirQue presente este seu texto.
Mais uma pérola rara.
Mais...
bjs
Rossana
Suas palavras são lapidadas... é arte escrita que toca ao coração. Espero que volte logo! Beijoss!
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