
A noite deve ter sido criada com a intenção de acalmar os dias. Só pode ser! Quando abri os olhos pela manhã ela tinha sumido da minha vista. Que alívio! Seu cheiro saiu de vez das minhas mãos, ou sei lá da onde. Fiquei impregnado de um negócio que não cheguei nem a sentir. Isso me invocou mesmo! Homem imagina o que não vê. E o que nem sente, pode ele alcançar? Um amigo meu achou até de me perguntar – Falcão, quais tuas fantasias preferidas? Eu respondi – Macho, gosto mesmo é de ver e pegar, tô ligado nessas coisas não. Tenho problema de concentração, entendeu né? Agora, o diabo daquela mulher entrou e se abancou em mim feito perfume barato. O vento fez essa covardia comigo, trouxe essa fêmea pra’ mexer com o meu sossego. Naquela quinta acordei livre disso, e me animei com o churrasco no sábado e com o bingo do carneiro. Eu tenho sorte pra’ rifa, jogo de bicho, sorteio, bingo e vou tirar esse prêmio. Subi o elevador e retomei a obra. Nem vi Dona Raquel. Não dá nem 15 minutos ela entra toda suada, de short, camiseta e diz: o sol tava quente na Beira-mar. Tinha vindo como é mesmo? Do Cooper. Acredito não, má! Covardia! Olhei para tudo que é canto, menos pro lado dela. Deu não, deu não. Ela diz – Me ajuda a pregar aqui esse São Jorge? E pede para eu marcar com o lápis o lugar do prego. Minha mão e a dela ali, os dedos roçando um no outro e eu perdendo a compostura. Eu não vou controlar isso aqui não - pensei - sem ter coragem nem de mirar o volume na calça. Será que ela tá ouvindo minha respiração? (Sair correndo, de vergonha, de vontade explodindo que nem bomba poderosa de guerra). Ela entra no quarto e em seguida passa outra mulher. Pelo visto é uma massagista. Deve ser sim, ela pediu para limpar uma cama de armar, dessas de massagem mesmo. Todos da obra desceram. Levanto, deixo as ferramentas no chão da sala e vou em direção ao quarto. Uma brecha, vê-la nua. Gostosa. Melhor: chegar sem nada na mão, ela iria desconfiar. Volto, pego a marreta. Porra de marreta! Deixo de novo. Impulso. Tu é doido. Escuto o barulho da cama armando, ouço a massagista perguntar por um óleo e imagino, do lado da porta, que ela acabou de tirar a roupa. A porta, que eu mesmo ajudei a fazer é sustentada por um trilho. Ela desliza. Há uma brecha, ela não tá trancada. E agora? Se afastar um pouco, poderei vê-la. Meu coração, eu nem sei mais onde fica. Vou conseguir parar? Vou?