domingo, 9 de setembro de 2012

Desencontro



                    Juan Miró





Chegou fora da hora. Tempo não se mede. Nunca houve uma lição que começasse assim: regras do que esperar. Vez em quando alguém lembrava - os apressados comem crú. Que seja, vale até o vazio da fome.


Rosa marcou às nove. Como havia aprendido, fez questão de destacar: 9:00 PM. Vai ver que ele não entendeu. Ficou sem jeito de perguntar e talvez tenha concluído, 21 horas na praça do mercado. Tem gente pra’ tudo que é coisa.


O cheiro de Charisma, lançamento da Avon, impregnava a sala de visita. Na vitrola, rodava As Curvas da Estrada de Santos. A mulher dançava em torno do calor das pernas. Na mão esquerda, pendia um pequeno copo de Dreher.

Esperar muda a direção do desejo.

A excitação das estradas, na voz de Roberto, traz velocidade à cena. A mulher pretende é o risco arranhando o presente. Rosa pediu por tudo para que ele se perdesse. Que o caminho até ela não fosse uma reta.

Qual o quê, ele bateu na porta milimetricamente na hora marcada. De imediato a mulher pensou, isso pode ser um risco para toda vida.

Rosa tomou-o entre mãos e disse: você confundiu as horas. Ele nunca entendeu. Ficou pensando no P e no M. Seriam as letras o motivo do desacordo? E sempre são.

A língua de um homem e de uma mulher segue em letras paralelas.