Acordou aos pulos. Era escuro breu. Sentiu um formigamento na ponta dos pés. Um frenesi de não poder parar braços e pernas. Tinha pressentimentos de fertilidades. Abriu os olhos e se perguntou em que diabo de lugar estava metida. Um silêncio zunia o vazio da escuta. Nunca se sabe do que vem depois de quando o nada se instaura. Raquel estava adiada de experimentar o ponto escuro do prazer. Nessa noite, fora tomada de assalto. Uma mão quente abria uma fenda e pedia passagem. Um silêncio de homem feito fera, movido da vontade dispersada de palavras, se apoderou do corpo dela. Sem se apresentar, sem pedir a chave, ele burlou segredos. Encontrou-a no canto esquerdo da cama. Raquel quase sempre se manteve a beira, no limiar entre um dentro e um fora. No parapeito do tanque com cheiro de barro e vislumbres de rã, na ante-sala das maldades infantis, na reserva do time de handball. Era a borda, seu lugar de ficar, o canto de conter precipitações. É certo que, quase sempre, era alvo de comentários. Ler muito provoca lentidões. Ela gosta de botar o corpo fora. Será que sente o suficiente? Sua velocidade cerzia um jeito de se retirar. Nessa noite, uma ligeireza cobriu o rosto dela. O visitante levou as mãos até a altura de suas fechaduras. Movendo um jeito de ter prazer. Ela sentou-se e, subitamente, sentiu-se empurrada de volta. A tela escura permitia ver a nitidez das dobras. Dos músculos pendendo braços e pernas. Da boca derramada em saliva e palavras sem nexo. Em dueto. Do roçar da barba mal-feita, fazendo arrepiar cada palmo da pele dela. Um grito pode esperar calado um incalculável tempo para ser rompido. Soou a sirene dos que se derramam. Finalmente, Raquel reconheceu o lugar onde havia dormido. No centro da paisagem do desconhecido. O homem.
Oi. Fiquei subemerso pensando "O que há de semelhança entre as duas personagens?" Falo de Raquel; Gosto do nome. Se tu for no Folhas encontra a seguinte. Abraço.
ResponderExcluirO " Homem" , o desconhecido que invade nossa vida, toma nosso corpo e amarra nosso coração.
ResponderExcluirRaquel o encontrou e permaneceu " fértil" e vulnerável para receber os caminhos tortuosos do amor e da paixão.
Belíssima narrativa !
Sensacional : " Soou a sirene dos que se derramam..."
Boa semana .
Oi, Gloria. Poético demais esse fragmento, assim como todo o texto: "Um silêncio zunia o vazio da escuta. Nunca se sabe do que vem depois de quando o nada se instaura."
ResponderExcluirO Ser o Nada, e esse desconhecido sentir para nosso eu lírico...
Adorei teu blog, e o texto.
O andarilho voltará mais vezes, já que agora conhece o caminho.
Um abraço, Zé Roig.
mas acordar assim, mesmo q no susto, é bom...
ResponderExcluirbjs
Seu estilo é inconfundível, Glória.
ResponderExcluirTenho certeza que eu conseguiria identificar tuas escritas onde fosse.
Ainda não achei uma definição (se é que precisa)a altura . Só sei que gosto demais.
Bjs
Rossana
ei, glorilda, tu se garante nesses contos, hein, fióta?! demais. a gente fica assim, cadenciando, sibilando, feito serpente. e querendo mais, né...
ResponderExcluirinté e beijão :)
Ei, Glória!
ResponderExcluirEstou por aqui acompanhando sua arte. Bela arte!
Um beijãooo.
Ótimo feriado!
Pedro Antônio
Glória,
ResponderExcluirQue maravilha! Rico, envolvente, maduro, mulher... Nossa!
Que leitura maravilhosa!
Obrigado! UAU !
Beijos
Glória menina faceira! Que texto!
ResponderExcluirEntre fechaduras e entranhas, e ainda no breu, vixi maria...
Fazia mt tempo que nao ouvia essa palavra, uma tia sempre dizia, "breu como a noite" :)
ehh titia querida!
Gloria, tava com saudade de tu mulher.
Se eu não tivesse lido cada comentário antes desse meu, iria repetir exatamente as palavras da Rossana, do Batom e Poesias.
ResponderExcluirE pra deixar um trecho que me tocou: "pressentimentos de fertilidades".
Seu estilo é mesmo inconfundível, Glória.
bjos
Berenice
Ótimo
ResponderExcluirFértil nos quereres e nos desejos, o desconhecido, rompendo e entrando sem bater.
ResponderExcluirEstou por aqui, sorvendo mais de tua escrita.
Abraços