(pintura: Tamara Alves)
Cogitou em silêncio: o destino não tem eira nem beira. E gracejou. Bom rir sem testemunha. Fazer-se de louca pode render estória. Aconteceria de aportar em meio ao deserto uma rua, um beco, uma alameda? Ali onde existia cancela. Impossível? Bem capaz de assim ser. Paga-se caro por um analista e a vida segue sem se nunca saber.
Gosto de épicos.
Assisti Fitzcarraldo de Herzog atravessar a Amazônia num teatro de ópera. Vi tanta coisa no mundo. A esperança é uma ave rara. Evgen Bavcar fotografa formas sutis na noite escura. E se soubesse atravessar a correnteza entre teus dedos vãos? O mar não tem fim. Pesquisei no google e vi que a causa mais frequente de afogamentos se dá devido a correntes marítimas. A matéria, com uma sabedoria invejável, indica: se o banhista fica preso em uma corrente, o mais importante é que ele mantenha a calma. São denominadas de correntes de retorno. Os nomes traem as coisas.
Dizer para mim –
tenha calma - é mesmo que acionar o comando – se desespere. Será por isso?
Amores partidos ocupam margens sem espelhos. Conheci um náufrago que me
disse que é para sempre. O homem, de nome Antonio, me contou que um tanto dele
permanece sem bóia, sem chão. Descobriram antídotos eficazes para todo
tipo de veneno e nenhum para a nitidez do que atravessa e fixa a visão.
Daria, quase, tudo
por uma dose de ambigüidade.
Domingo é dia de pizza.
Distrair-se é um brinquedo. Tomo entre as mãos uma fatia generosa e esqueço. O
homem levado pela correnteza falou que persiste em sua boca o acre da
maresia. Eu, que nunca fui arrastada, carrego a sina de discernir o paladar de
cada coisa. Doce é doce, azedo é azedo, amargo é amargo. Pouco importa,
na extensão da língua emergirá um destino. E flutuará o grito de um
naufrágio.
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Ventanias