é quase carnaval. As fantasias foram tiradas das gavetas. Entoa canções no ar que dizem do desejo dos encontros marcados pelo fugidio e êxtase do mistério: “quem é você, adivinha se gosta de mim, hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim”. O amor da passante, da última vista como diz Beaudelaire. A vertigem do explosivo, da potência do que dura e se apaga em segundos. Desfilam nos blocos, nos corpos carnavalescos e nos corações foliões amores contidos, perdidos, rompidos: “alecrim está chorando pelo amor da colombina, no meio da multidão”. Olhares se cruzam e se perdem. São lícitos os beijos roubados. As vinganças de rompimentos e dores ganham passagem no carnaval. “hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria, quero que você me assista, na mais fina companhia, se você sentir saudades por favor não dê na vista”. O carnaval é o compasso do tempo que não espera. A saudade deve ser pintada de alegria, mesmo que no rosto fique cravada a lágrima do pierrô. As ladeiras fazem despencar a alegria e desfazem as mãos:: não se perca de mm, não se esqueça de mim, não desapareça”. A cachaça vira água e a chuva mistura-se ao ‘suor e cerveja”. Bruxas se encontram com piratas, duendes, anjos, capetas, irmãos metralhas, barras de chocolates, cotonetes gigantes; fundem-se no jogo de poder ser outro, por quatro dias. “Eu sou a filha da chiquita bacana, puxei a mamãe (esse ano) não caio em armadilhas”. Subirei a serra nítida como a paisagem. “hoje não tem dança, não tem mais menina de trança, nem cheiro de lança no ar, hoje não tem frevo, tem gente que passa com medo e na praça ninguém pra’ cantar. Minhas máscaras me usam quando fico tímida. Já me pertencem. Eu sou, parodiando Roberto Carlos, uma brincante a moda antiga. Da potência da alegria que faz pinotar desejos dos “cordões de saideira, vendo a vida se enfeitar”. Eu quero brincar no carnaval. E vou. Da Linha da Serra vejo o desfile de paisagens margeadas por cercas-vivas de papoulas. Tão vermelhinhas, tão vermelhinhas! As ladeiras seguram minhas mãos e eu tateio o infinito. “acho que a chuva ajuda a gente a se ver”. E o por-do-sol também. No meus olhos permanecem serpentinas de todas as cores. Eu te vi, você me vê. Sem máscaras. É carnaval. Ah! quase esqueço. Vou fantasiada de borboleta. Você voa comigo?
Que lindoooo....
ResponderExcluircarnaval...eu não sei do que eu iria fantasiada, provavelmente de fadinha hehehhe...
adorei, este é o verdadeiro espirito do carnaval, pena que algumas pessoas exageram nesse dia, fazendo coisas sem sentindo...
Pra quem trabalha o feriadão prolongado será um presentão...rsrss
bjuuuu
tenha um excelente carnaval.
Olá! Folia, então? Borboletas e alegria. Passarei o carnaval em casa, com uns amigos muito especiais. Tomaremos chá e falaremos de tudo um pouco. Como são doces esses encontros...
ResponderExcluirBeijo
Carpe Diem!!!
e assim chega mais um carnaval.
ResponderExcluireu vou 'subir a serra' pra descansar e ser eu por quatro dias.
beijos borboleta
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"A saudade deve ser pintada de alegria, mesmo que no rosto fique cravada a lágrima do pierrô." Na minha humilde opinião, esta frase diz o que seu texto tem a dizer. Com a densidade da sua prosa poética, você conseguiu uma leveza de lágrimas que apenas os Los Hermanos me trazem. O carnaval é o tempo de deixar de ser. Ou melhor, falando heideggerianamente, é o tempo de abdicar do nosso modo-de-ser autêntico para cairmos no nosso mode-de-ser inautêntico. Mas o que é autenticidade? O que é moda? O que é um beijo roubado se existem tantas vidas sendo concebidas nesse exato momento. Não passarei meu carnaval na rua. Alguns livros me esperam e alguns filmes me chamam. E serão assim esses dias. Talvez isso ocorra porque não consigo tirar todas as máscaras que me cobrem antes da quarta caixa de cerveja. Ou talvez ocorra simplesmente porque tenho medo da brincadeira, já que o próprio Universo vive brincando com a gente a começar pelo fato de nos deixar nascer, de nos jogar num mundo trespassado de linguagem e história. Mas para além desses fatores, considero que suas linhas não são ao vento. Ao contrário, considero que ao vento são suas linhas. Isso pode parecer banal gramaticalmente, mas muda todo sentido que você tenta passar com o blog. E por qual motivo? Se temos linhas ao vento, as linhas pertencem ao vento; já se temos ao vento as linhas que tecemos, ou ao menos doamos ao vento o calor da pele de algumas das nossas palavras, o alcance ético e afetivo é muito maior. E tanto a amizade, quanto a paixão, o sexo e a democracia só acontecem com afetividade. Mas uma afetividade da troca, uma afetividade da ética, a qual, ao invés de apenas tolerar o outro, respeite de maneira ética o outro e portanto conviva com ele como um igual. Problema maior é que no carnaval ninguém é igual a ninguém e que o coração pode se iludir por qualquer máscara de fala mansa e beijo molhado. Acho que por conta disso não me arrisco. Fico com a prosa, os livros e os filmes - e além disso minhas aulas a preparar. E faço uma proposta: já falei com a Bilba e a Ana Valeska e ambas acharam legal a idéia de montar um blog sobre cinema que verdadeiramente fale sobre cinema e não apenas sobre orelhas de DVDs. O que você acha? Meu MSN e e-mail é eduardo7frizzo@hotmail.com. Aguardarei resposta. Um beijo e boa noite, moça.
ResponderExcluirSabe, não gosto muito de carnaval. Música alta, multidão, gente beijando gente que nunca viu na vida, bêbados(as), enfim, isso, para mim,não tem a graça. Prefiro ficar em casa com um bom livro, boa música e um bom papo. Ou um filme, quem sabe.
ResponderExcluirAh, ver borboletas voarem é um fênomeno. Sou apaixonada. E eu, como os pares de azas que tenho, vivo voando. E alto.
Beijo, borboleta.
Fica bem.
Você não é nada do que me falou, cara Glória. Você é muito mais do que me falou, cara Glória. A escrita que dos seus dedos aflora parece o canto que quase traiu Odisseu. Tudo isso que de ti sai entra nos olhos da gente e circula pelo sangue da gente como jatos de sabe-se-lá-o-quê por sobre sabe-se-lá-onde, sendo que é por conta dessa imprecisão que digo da sua imensa semelhança literária com a Hilda Hilst, mestre imensa, profeta do tudo, doutora do nada, esperma de flores em amanheceres neon. Gosto dos trejeitos dos teus jeitos, gosto das cores dos teus dizeres, gosto de entrever teus suores nos poros de cada letra, e é por conta disso que aqui sigo lendo teus textos. Se o Carnaval foi, se o Carnaval ficou, isso é questão de sensibilidade de quem vê. Nunca fui de festas carnais coletivas. Prefiro as íntimas, aquelas nas quais posso tecer minha própria folia. E ainda que desconheça as regras gramaticais que inventaram de unir algumas nações da língua portuguesa, nas suas frases existe até um quê de Lobo Antunes um pouco antes de ser Lobo Antunes, entende? Se não entende, tudo bem. O fato é que eu te adoro sem te conhecer. E que os druídas que te fizeram cair no caldeirão, vivam pra sempre. Quanto ao blog, passo-te meu e-mail e MSN para trocarmos idéis: eduardo7frizzo@hotmail.com. Já quanto a mim, conservo minha rabugentice de chimarrão e de vez em quando um gole de canha porque ninguém é de ferro, quanto mais professores e advogados gremistas, considerando que amanhã começa nosso rumo em direção à Libertação da América. Um beijo tricolor.
ResponderExcluirTambém pensei em que fantasia usaria. Decidi que nesse carnaval vou sair na "apoteose" de abelhinha ...posso ser doce, bela e intensa. Hoje sei exatamente a força que tenho e você é cúmplice de tudo isso.
ResponderExcluirBeijão borboleta...também quero compartilhar alguns vôos com você. Apesar de ter medo de voar(você sabe) isso não será problema. Somos corajosas né?!
Até o Carnaval te rende belas palavras! Isso é talento! Eu não gosto de Carnaval. Não me faz bem essa parte do ano.
ResponderExcluirAbraço,
R.Vinicius