Fora de mim:
(Luzes de todas as cores pontilham a cidade e enunciam o natal. Um fervilhão de gente povoa shoppings, aeroportos, bares, danceterias, avenidas e points; de todos os gostos e estilos. Apartamentos e casas recebem novas pinturas, os salões de beleza aglomeram-se, é frenética a busca por roupas e acessórios a serem exibidos nas ceias natalinas. Presentes são comprados para trocas em amigos-secretos sem distinção de gosto e afinidade. É preciso correr, é preciso passar, é preciso buzinar, xingar o outro que não se locomove rapidamente no fluxo abundante de carros. A fraternidade ganha cores nas prateleiras. Papai Noel de tudo que é tipo, estatura e fardamento é visitado em cada shopping da Cidade. Um deles chegou de helicóptero e deu autógrafos; não perdendo para nenhum pop star. Filas de crianças aglomeram-se para apenas apertar a mão, sentar um pouco no colo e concretizarem, finalmente, o pedido de natal. Muito prático, porque os pais e mães, já no shopping providenciam os sonhos de natal de seus filhos. Nos semáforos, famílias, com crianças de todas as idades amontoam-se e esperam a caridade dos passantes. Os vidros fumes e a velocidade dos veículos, evidenciam a pressa; a solidariedade não tem como descer nas ruas. De vez em quando, alguém decide fazer sua caridade anual e uns presentes comprados em série, são doados, tão rapidamente como o tempo entre o vermelho e o verde. Uma indiferença desenha o invólucro entre os mundos que passeiam dentro dos carros e os sonhos adiados do lado de fora. Um abismo, cujo limite é o deslocamento e a barreira é medo. Eu não encontro lugar.)
Dentro de mim:
Tomo-me pela mão e percebo que o tempo é de natalidade. Algo morre, para que outras coisas possam dar passagem. O mundo fica tão nítido, tão nítido que os olhos quase não suportam. Por que muitos passam e não vêem? Dores, fomes, misérias e solidões estampam-se em cada esquina, praça, pedágio pedindo uma dose pequena de humanidade. Eu entendo tanto o “Ensaio sobre a cegueira”. Entendo por um excesso cotidiano de visão que refina o meu olhar espalhado por frestas do corpo. Olhos fincados em cada ponto de sensação. Por isso, nenhuma venda conseguiria esconder o que pressinto no mínimo ruído de indiferença e esquecimento. Um fio invisível me interliga a cada passante desconhecido, um fio que vibra e produz uma sinfonia de sensações difusas e desafinadas. O que dizer, que boa nova enunciar? Uma estrela sinaliza no meu céu – nasce a eterna criança, mesmo que os olhos doam e ela seja tomada por súbitas ondas de desvanecimento. Essa criança, como diz Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) “Dá-me uma mão a mim e a tudo que existe”. Ensina-me um jeito simples de fazer esperança com o coração na ponta dos dedos. Quando tem sono, já cansada ela pede um lugar quente para dormir e eu entôo a sua preferida canção de ninar: “dorme minha pequeninha, dorme que a noite já vem, tua mãe (pai) tá muito sozinha de tanto amor que ela tem”. Eu velo seu sono, banhada de ternura. Antevejo sua vontade de fazer nascer outros mundos sacudindo os sonhos, bem acordada. E como já disse, tomo suas mãos e ela me abraça os dedos. Adormecemos em um só corpo, enlaçadas como apenas convém a uma criança e uma poeta. Um lugar nos abriga. O milagre amanhecerá todos os dias. Feito força em comunhão. É natal.
(Luzes de todas as cores pontilham a cidade e enunciam o natal. Um fervilhão de gente povoa shoppings, aeroportos, bares, danceterias, avenidas e points; de todos os gostos e estilos. Apartamentos e casas recebem novas pinturas, os salões de beleza aglomeram-se, é frenética a busca por roupas e acessórios a serem exibidos nas ceias natalinas. Presentes são comprados para trocas em amigos-secretos sem distinção de gosto e afinidade. É preciso correr, é preciso passar, é preciso buzinar, xingar o outro que não se locomove rapidamente no fluxo abundante de carros. A fraternidade ganha cores nas prateleiras. Papai Noel de tudo que é tipo, estatura e fardamento é visitado em cada shopping da Cidade. Um deles chegou de helicóptero e deu autógrafos; não perdendo para nenhum pop star. Filas de crianças aglomeram-se para apenas apertar a mão, sentar um pouco no colo e concretizarem, finalmente, o pedido de natal. Muito prático, porque os pais e mães, já no shopping providenciam os sonhos de natal de seus filhos. Nos semáforos, famílias, com crianças de todas as idades amontoam-se e esperam a caridade dos passantes. Os vidros fumes e a velocidade dos veículos, evidenciam a pressa; a solidariedade não tem como descer nas ruas. De vez em quando, alguém decide fazer sua caridade anual e uns presentes comprados em série, são doados, tão rapidamente como o tempo entre o vermelho e o verde. Uma indiferença desenha o invólucro entre os mundos que passeiam dentro dos carros e os sonhos adiados do lado de fora. Um abismo, cujo limite é o deslocamento e a barreira é medo. Eu não encontro lugar.)
Dentro de mim:
Tomo-me pela mão e percebo que o tempo é de natalidade. Algo morre, para que outras coisas possam dar passagem. O mundo fica tão nítido, tão nítido que os olhos quase não suportam. Por que muitos passam e não vêem? Dores, fomes, misérias e solidões estampam-se em cada esquina, praça, pedágio pedindo uma dose pequena de humanidade. Eu entendo tanto o “Ensaio sobre a cegueira”. Entendo por um excesso cotidiano de visão que refina o meu olhar espalhado por frestas do corpo. Olhos fincados em cada ponto de sensação. Por isso, nenhuma venda conseguiria esconder o que pressinto no mínimo ruído de indiferença e esquecimento. Um fio invisível me interliga a cada passante desconhecido, um fio que vibra e produz uma sinfonia de sensações difusas e desafinadas. O que dizer, que boa nova enunciar? Uma estrela sinaliza no meu céu – nasce a eterna criança, mesmo que os olhos doam e ela seja tomada por súbitas ondas de desvanecimento. Essa criança, como diz Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) “Dá-me uma mão a mim e a tudo que existe”. Ensina-me um jeito simples de fazer esperança com o coração na ponta dos dedos. Quando tem sono, já cansada ela pede um lugar quente para dormir e eu entôo a sua preferida canção de ninar: “dorme minha pequeninha, dorme que a noite já vem, tua mãe (pai) tá muito sozinha de tanto amor que ela tem”. Eu velo seu sono, banhada de ternura. Antevejo sua vontade de fazer nascer outros mundos sacudindo os sonhos, bem acordada. E como já disse, tomo suas mãos e ela me abraça os dedos. Adormecemos em um só corpo, enlaçadas como apenas convém a uma criança e uma poeta. Um lugar nos abriga. O milagre amanhecerá todos os dias. Feito força em comunhão. É natal.
Não gosto do Natal, nem de datas festivas. Adorei o Ensaio sobre a cegueira, tanto como filme, como livro também. Acho que o Natal e as datas festivas estão mais materiais e cada vez menos significativa. Ha humanidade tem esquecido a humanidade que há em si mesmo. Gostei de lê-la. Hoje ando um pouco sei lá, menos alegre.
ResponderExcluirAbraço,
R.Vinicius
Eu também, Vinicius, eu também. Outros dias deslizarão feito música, escorrendo que nem gentileza gratuita, pousando que nem passarinho. Num dialeto cearences? não se avexe não! faremos tantos outros poemas! bjs com um afago.
ResponderExcluireu também estou menos alegre,como diz o Vinícius.
ResponderExcluirtenho observado muito o movimento das pessoas neste fim de ano. engraçado que até o trânsito fica mais violento, as pessoas parecem meio loucas, acho que com pressa pras compras natalinas. já levei três xingamentos essa semana por dirigir despreocupadamente, sem acelerar demais.
glória, estou de mãos dadas contigo nesse sentimento. tenha certeza disso.
texto lindo.
um beijo do tamanho da nossa falta de sossego.
Glória, que lindo. tbm me sinto um pouco assim!
ResponderExcluirAi que texto lindo!!!!! As dobras de Glória ...quero mais dobras!
ResponderExcluirÉ o natal de fora e o natal de dentro. apenas o último nos fortalece, acrescenta, alegra. Só tem sentido assim. o natal no coração. de verdade. e a Glória tem esse talento de passar isso, o natal pra dentro de mim.
ResponderExcluirÉ Natal e mais um ano se vai..
ResponderExcluirNão é complexo isso?! As pessoas comemoram mais um ano que se passa. Deveria ser triste. A gente vai ficando mais velho, né? hahaha. (brincadeira)
Natal tem um lado bom: tá reunido com toda família! Disso eu gosto!
Ah, flor, me encanto com suas palavras! Lê-las é agradabilíssimo!
Beijo grande ;*
Fica com Deus.
Continuemos..